domingo, 23 de novembro de 2014

Mãe de jovem assassinado revela como a Globo a manipulou | Conversa Afiada



Mãe de jovem assassinado revela como a Globo a manipulou | Conversa Afiada

Texto de Jean Willys no Face: Refletindo....
Nem sempre vamos concordar em tudo. A vida é assim. Eu sou muito grato às pessoas que me acompanham aqui, que me apoiaram nas últimas eleições e, sobretudo, que estão comigo — e eu com elas, do mesmo lado — em muitas lutas que a gente trava todos os dias, no Congresso, nas redes e nas ruas. Sei que pensamos parecido em muitas coisas e que compartilhamos convicções, ideias, projetos, utopias e esperanças. Contudo, não espero que concordem comigo em tudo o que eu faço, ou em tudo o que eu digo. E espero que vocês respeitem, também, meu direito a não concordar sempre e em tudo com vocês. Espero, com acordos e desacordos, poder representar cada uma e cada um de vocês na maioria das vezes — e acho que estou conseguindo, com as limitações que a representação política tem nessa democracia precária em que vivemos.
Sei que algumas e alguns de vocês não concordaram com a minha opinião sobre a série "Sexo e as negas" e acham que eu não deveria ter gravado um vídeo de apoio à obra de Miguel Falabella. Da mesma forma, muit@s outr@s concordaram e me parabenizaram por tê-lo feito. Não fui apenas eu: também gravaram vídeos semelhantes vári@s artistas e referentes sociais — a maioria negros e negras — que rejeitaram as críticas e acusações feitas contra a série e gostaram muito dela, como Preta Gil, Mart'Nália, Carlinhos Brown, Alcione, Alexandre Pires, Margareth Menezes, Zezé Motta, Glória Maria e outros/as; mas nenhum deles foi tão criticado por alguns grupos quanto eu. Talvez pelo fato de eu ser político e ter muit@s inimig@s de outras lutas. E talvez, em outros casos, pelo fato de que muitas das pessoas que fizeram críticas contra "Sexo e as negas" se sentiram, em outros momentos, representadas por mim. E esperavam que dessa vez também concordássemos. Mas nem sempre vamos concordar em tudo e não tem problema nisto.
Quando eu expresso a minha opinião sobre qualquer tema, não pretendo falar em nome de outr@s. Nunca falei, sequer, em nome de todos os gays - ou de toda a comunidade sexo-diversa - apesar de ser gay e saber que sou um referente respeitado por milhões de pessoas LGBT em todo o Brasil. E muito menos pretenderia falar em nome das mulheres negras, que para isso tem suas próprias vozes — que são tão diversas como as vozes dos LGBTs e também não são unânimes em tudo, tampouco nesse debate. Mas também eu (inclusive, como baiano afrodescendente que sempre se assumiu como negro e luta junto ao movimento negro e junto ao povo de santo na Câmara dos Deputados, como poucos parlamentares fazem, da mesma forma que defendo abertamente bandeiras do movimento feminista, como a legalização do aborto, tema do qual outros fogem!) tenho direito a expressar minha opinião.
E, quando faço isso, falo como quem eu sou: gay; nordestino nascido e criado na periferia da Bahia, na extrema pobreza; filho de mãe branca e pai negro, e também filho de Oxum e Oxossi; amante das novelas e seriados; jornalista; escritor; professor de teoria da comunicação; ativista; militante de esquerda; deputado. Cada uma dessas e outras coisas da minha vida me faz ter uma leitura da negritude e do racismo, do machismo e da opressão por gênero e orientação sexual, da pobreza, da exclusão social, da televisão, da literatura, da indústria cultural, do ativismo, da política e de outras questões envolvidas nesse debate. É a minha leitura e eu não vou me retratar do que penso. Até porque seria hipócrita se fizesse isso. Como militante de um partido de esquerda, tenho uma visão muito crítica da maneira em que a esquerda e parte dos movimentos sociais, inclusive o movimento LGBT, enxergam a comunicação de massas e se relacionam com a(s) mídia(s). E por isso, eu me relaciono (como jornalista, como político, como deputado, como gay, como ativista) de outra forma.
Estou aberto ao diálogo e a ouvir as críticas, como sempre faço. Não conheço muitos políticos que dialoguem com os eleitores por Twitter, Facebook, Twitcam, Hangouts, comícios domiciliares, palestras em universidades, ONGs ou praças públicas, audiências no Congresso, etc. Eu leio os tuites que as pessoas me enviam e os comentários nessa página, e nem sempre é a minha assessoria que responde. No Twitter, quase sempre sou eu mesmo, e às vezes também aqui. Dialogo com os movimentos sociais e com os cidadãos na rua, no meu gabinete ou onde for necessário. Meu mandato sempre foi de portas abertas. E não tenho problemas em ser criticado.
Eu li vários textos críticos da série e, mesmo discordando, respeito muito a opinião de quem assim pensa — e o meu questionamento foi principalmente àqueles que criticaram a série antes da estreia, sem ter assistido. Quem assistiu e quiser questionar tem direito a fazer e eu respeito sua opinião. O que não é possível, porque sabota a possibilidade dos diálogos, é pretender impor uma opinião, como se fosse obrigatória, quando discordamos. A democracia se faz com opiniões diferentes, debates abertos e francos e respeito pelo outro. Temos que aprender — a esquerda em especial, que é onde me coloco politicamente — que não podemos ser autoritários, nem tratar como inimigo/a quem está do nosso lado. A história está aí com seus ensinamentos. Até meu próprio partido precisa, muitas vezes, lembrar que a palavra "liberdade" faz parte do seu nome. Dialoguemos sem imposições, sem dar ordens e com respeito pela opinião do outro. Tentemos ouvir mais e gritar menos. E sejamos solidários entre nós, mesmo que às vezes não pensemos igual, porque lá fora estão nossos inimigos, querendo acabar com nossos direitos e liberdades.
Busquemos, também, construir pontes. Não apenas entre nós. Inclusive ali onde alguns acham que é impossível. Sim, também na mídia, na indústria cultural, no cinema, na música, na política, no jornalismo. Todas essas arenas de disputa têm lugar para buscarmos aliados para as nossas lutas.
Agora, sim, falemos da série. Minha leitura de "Sexo e as negas" começa pela relação que a ideia do roteiro tem com o seriado americano "Sex and the City", que homenageia, ironiza e traz para a realidade brasileira. A série trata da classe C que emergiu na era Lula e de sua relação com o consumo; das novas famílias chefiadas por mães solteiras que se dividem entre os papéis de mães, trabalhadoras e mulheres (com seu desejo sexual reconhecido e sua autonomia sobre o corpo, vivendo amores e dissabores das relações amorosas). Com humor, trata da desigualdade e mobilidade sociais, bem como do racismo insidioso, e dá espaço à cultura urbana que emerge nas periferias das cidades por meio da música.
O elenco da série é majoritariamente negro, e as mulheres negras são protagonistas (e não personagens subalternas) em horário nobre, num país e numa televisão em que isso, infelizmente, é novidade. E é um elenco talentoso que serve de referência positiva, numa tevê com tão poucas atrizes negras empoderadas. Não há o que agradecer, de fato a televisão nos deve tudo isso há muito tempo, mas devemos sim valorizar os fatos positivos, como eu valorizei o beijo gay entre Félix e Nico, embora a Globo nos devesse isso há muitos anos e chegasse bem tarde se comparada com a televisão de alguns países vizinhos. Por essas e outras razões, há muitas negras e negros e não-negr@s adorando a série, como eu, porque se identificam com muitas de suas histórias, em que pese os limites da representação televisiva. E para citar apenas um exemplo de como esses espaços podem ser usados como espaços de reafirmação, vou citar aqui um episódio da série em que vi algo que jamais havia visto antes em uma série brasileira. Uma das protagonistas chega em casa depois do lançamento de um livro e sua filha está brincando com uma boneca de cor preta (não uma Barbie, e sim uma boneca de cor preta) e quando pede à mãe que lhe conte uma história para dormir, a mãe narra a história de uma princesa africana, e aparece uma mulher negra vestida de Oxum desfilando numa pradaria. Onde está o racismo aqui?
Essa introdução foi para dizer que hoje, na abertura da Semana de Reflexões sobre Negritude, Gênero e Raça, para a qual fui convidado, fui questionado sobre o meu apoio à continuidade da série. Quero dividir com vocês o que eu respondi, sobre a novela e sobre minha atitude nessa polêmica, que foi gravado. Na minha fala, respondo mais especificamente sobre a série e explico meu ponto de vista sobre a mídia e a indústria cultural. O vídeo não tem a melhor qualidade e a minha fala tem o calor da espontaneidade: tudo foi dito com emoção e sem pensar duas vezes. E é assim que eu quero dividir com vocês, porque é assim que eu sou, sempre.

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