segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A Realidade (típica) da classe média paulista



Por Alexandre Tambelli
Sérgio Moro é filho da classe média tradicional.
Do Blog de Luis Nassif
A realidade brasileira do Judiciário esbarra na própria Educação que os magistrados receberam em casa e na escola e até no curso de Direito.
Como classe média tradicional paulistana sei que a minha Educação (da minha classe social, não da minha família em específico) é via ensino meritocrático, baseado o ensino na ideia do vestibular que gera a boa faculdade numa carreira rentável e que me vai levar ao sucesso profissional, o que me propiciará comprar coisas de valor e angariar status social; nenhuma valorização do social, do pensar coletivo somos levados a ter.

Neste mundinho reproduzido em larga escala no meu convívio social as pessoas sempre tiveram alguns hábitos ligados à informação sobre o cotidiano do Brasil e do Mundo: ler/assinar a Revista Veja, depois veio a mania da Folha por causa das enciclopédias, dicionários, CDs e etc. no domingão e assistir diariamente o Jornal Nacional.
A realidade da classe média tradicional é personalista e seu contato com o mundo externo é via velha mídia: Rede Globo, Veja, Folha e Estadão (“os quatrocentões”) + Globonews e CBN. Nunca um morador de classe média tradicional foi em Sapopemba ou no Itaim Paulista. Ele sabe de lá pelo noticiário que vai dizer de uma chacina ou de traficantes presos naqueles bairros. A visão de mundo da minha gente é a visão de mundo que a velha mídia forjou.
Os nossos neurônios, talvez, sejam pouco testados e ai é que mora o perigo.
Leitor da Veja e telespectador da Globonews e JN que recebe um Jornalismo mastigado, irreflexivo e sem contraditório não está preparado para ser Magistrado, mas é.
E é por quê?
Porque ele pode estudar somente, se alimentar adequadamente e comprar o material de estudo necessário para os estudos e que são caros, além, de fazer um Damásio da vida e ainda tem o detalhe de ser formado em uma boa faculdade de Direito. Vive a vida sem dificuldades.
Imaginemos todas as redes de relações idênticas, com pessoas forjadas na mesma visão de mundo da velha mídia adentrando na Magistratura. É uma loucura.
O filho da burguesia não precisa ser Juiz. É em peso o da classe média tradicional que adentra na seara da Magistratura.
PT/Dilma e Lula são uns demônios, certo?
Infelizmente, formamos Juízes individualistas, muitos deles alienados e conservadores e que tem a visão de sociedade da classe média tradicional: visão meritocrática, contrária a política de cotas, que enxerga o mundo da periferia como um mundo de vagabundagem, que prisão é solução para o problema da violência e que o trabalho lhe pode valer a sonhada posição social ensinada na escola se ele se encaixar na conduta diária que leva à fortuna.
Este Magistrado é o espelho do que aprende em casa, na escola e na velha mídia (sua referência para compreensão do Brasil e do Mundo no tempo livre).
Este Magistrado defenderá a classe social que a velha mídia defender, crê o sujeito, como minha amiga Dê falou com propriedade neste comentário aqui no GGN:http://www.jornalggn.com.br/comment/843068#comment-843068 e que deve ser lido
e refletido, pertencer a este estrato social dos diferenciados (da sociedade) e reproduz o pensamento e a ação do 1% da sociedade que a velha mídia defende.
Vivemos esta realidade.
Formamos Juízes educados em escolas que não educam para a cidadania, informados em mídias que alienam e desinformam e não geram reflexão, capacidades de ideação (escola e lar não trazem este arcabouço essencial ao Juiz) e em famílias que olham apenas para o seu próprio umbigo.
Uma lembrança.
Hoje, a classe média tradicional é quase que totalmente, desvinculada até dos clássicos trabalhos filantrópicos: bazares, confecção de artesanatos, para vendas e arrecadação de fundos para doações de roupas, brinquedos e alimentos à orfanatos, asilos, etc., tão comuns às senhoras de classe média tradiconal nos tempos que elas eram apenas donas de casa.
Vejamos um caso concreto.
O Juiz Sérgio Moro e seu percurso de jovem de classe média tradicional até chegar à Magistratura.
Pertenceu Moro a classe média de Maringá. Foi aluno de colégio religioso e fez curso de idiomas na sua cidade Natal. (vi-me no espelho aqui).
Um dado relevante: com 24 anos Sérgio Moro se tornou Juiz.
Vejam detalhes nesta biografia do Juiz: Sérgio Moro, um ilustríssimo desconhecido - Gazeta do Povo.
“(...) Os meninos estudaram em colégio religioso. Faziam aula no Instituto de Línguas de Maringá, única escola de idiomas da cidade. Não era vida de luxo – a típica situação da classe média no interior do Brasil, numa época de “milagre econômico” e de falta de liberdades individuais.
Sergio passou no vestibular e entrou no curso de Direito. (...)”
A figura de um Juiz como Sérgio Moro, não se encaixaria, talvez, neste Magistrado que foi forjado numa Educação com fulcro no individualismo, na meritocracia das escolas particulares tradicionais e com referências de Brasil e de Mundo formadas através da velha mídia?  
Relevando aqui um dado importante. Seu pai foi Professor de Geografia e sua mãe de Português. O que destoa do modelo clássico do pai trabalhador e da mãe dona de casa e, quase certo é, tinha um ambiente familiar propenso à leitura e discussões mais aprofundadas sobre a realidade do Brasil e do Mundo.
Estes dados acima permitem dizer que Moro é um legítimo reprodutor do modo de vida da classe média tradicional?
Uma indagação me veio:
O que teve de formação filosófico-moral e de noções de cidadania e de coletividade e solidariedade no seu caminhar até a Magistratura com apenas 24 anos?
Algo diferencia Sérgio Moro dos seus pares na Magistratura da classe média tradicional?  
Mundos iguais não tendem a formar personalidades iguais?
E os procuradores da Lava-Jato?
Não seriam eles, também, fruto de uma produção em série, fordista, de magistrados de classe média tradicional?
E não seria acaso, certo? Que a minha classe social seja a que mais se alinha em pensamento, em respeito e admiração ao Juiz Sérgio Moro e aos Procuradores da Lava-Jato. 
Não seríamos o espelho do que nos é colocado (via escola particular, velha mídia e convívio social) como referência de vencedor e de sucesso profissional?
Sérgio Moro é o mais acabado modelo de vencedor e de sucesso profissional para a/ e da classe média tradicional. 


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