Extraído do Blog de Luis Nassif
Polícia deve tratar a prevenção a chacinas como uma questão institucional, por Hélio Schwartzman
ter, 25/08/2015 - 11:37
Da Folha
Hélio Schwartzman
SÃO PAULO - A PM
paulista se referiu aos policiais suspeitos de ter liderado a chacina do
último dia 13 como "bandidos que integram temporariamente a
instituição". É isso mesmo? Esse gênero de crime é resultado apenas de
algumas maçãs podres que se infiltraram na corporação ou há algo de
institucional aí?
Gostamos de pensar o delinquente ou como
um maluco que não controla suas ações, ou como um agente racional que
decide cometer crimes pesando fatores como benefício esperado e a chance
de ser apanhado.
Experimentos conduzidos por
pesquisadores como Dan Ariely sugerem que as coisas podem ser mais
complicadas. Pelo menos em condições de laboratório, as pessoas incorrem
mais em infrações à norma quando têm a oportunidade de racionalizá-las
do que quando o pesquisador aumenta a probabilidade de o trapaceiro não
ser apanhado.
É contraintuitivo, mas faz sentido, se
pensarmos o pendor para o crime como resultado de uma contínua
negociação entre a vontade de obter vantagem e a necessidade que cada um
de nós tem de manter para si mesmo a imagem de que é um ser humano bom.
O cérebro resolve a contradição com as racionalizações.
E uma das surpresas que surgiram nesses
experimentos é que as pessoas se sentem mais à vontade para delinquir
quando podem argumentar que o fazem no interesse de terceiros do que
quando a vantagem é inapelavelmente pessoal. Se criminosos são uma
ameaça à sociedade, quando eu os elimino estou agindo altruisticamente, o
que desculpa o fato de meus métodos não serem tecnicamente muito
legais.
Outro achado interessante é que a
percepção (certa ou errada) de que todos estão cometendo uma violação
também facilita a racionalização.
Esses dois elementos já deveriam bastar
para a polícia tratar a prevenção a chacinas como uma questão
institucional, não um simples problema de maçãs podres.
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